Entoação de vogais

A entoação ou entonação se refere ao uso natural da voz, para além da palavra e da língua que se fala. Você também entoa quando ri, imita som de passarinho, espreguiça, grita e cria sons para se expressar e interagir com outros seres.

A entoação, de uma forma geral, está intimamente relacionada com as nossas emoções que acompanham a nossa fala e a nossa expressão. Por isso, muitas vezes, a nossa entoação comunica muito mais que as palavras que proferimos, pois quando dizemos algo e sentimos outra coisa, o tom da nossa voz e o nosso corpo comunicam isso.

Já a entoação de vogais é a prática de emitir o som de cada vogal de forma contínua. As vogais são os únicos sons vozeados que são possíveis de serem emitidos dessa forma. Além disso, o som de cada vogal possui uma riqueza única de harmônicos. Harmônicos são as frequências geradas pela frequência fundamental que está sendo emitida e podemos escutá-los com maior facilidade quando emitimos sons vozeados (com voz) contínuos.

Esses harmônicos gerados na entoação produzem a harmonização dos nossos corpos, que acontece dentro para fora. E quanto maior a gama de frequências que experimentamos, mais desfrutamos os benefícios do som e o potencial da nossa voz.

Possíveis origens da entoação

Não há registros que indiquem uma origem específica dessa prática. O que sim, se sabe é que a entoação era uma prática presente em muitas civilizações antigas, usada para a conexão com a consciência maior. O Egito antigo é uma referência central nesse sentido, onde os sons também eram utilizados no processo de transcendência, na preparação das pessoas para a sua passagem. Nesse processo de preparação, os sons abriam os portais de consciência da pessoa para que ela despertasse com mais rapidez para o sentido de unidade.

Também esteve e segue pressente na civilização Hindu, sendo uma das práticas centrais no sistema Yoga, o yoganada; nos povos indígenas da Austrália e das Américas; nas civilizações mongóis, onde se pratica até hoje o overtone, ou canto harmônico, como conhecemos.

A partir da década de 1970, a entoação de vogais passou a ser difundida, principalmente nos Estados Unidos, através do soundtherapy – terapia de som, ou soundhealing – “cura” pelo som (coloco aqui a palavra cura entre aspas, por ser um conceito que não utilizo. Construo meu pensamento e propostas sonoras partindo do princípio de harmonização e alinhamento). E nos últimos 5 anos podemos acompanhar um crescimento exponencial desses conhecimentos no mundo inteiro, inclusive no Brasil.

Abordagens

Pode-se encontrar diferentes propostas de entoação de vogais, em função dos diferentes fonemas existentes nas diferentes línguas. Por exemplo, o conjunto de fonemas entoado pelo povo Guarani é diferente do conjunto proposto por Rudolf Steiner (Antroposofia – Alemanha), que é diferente do conjunto proposto por Jonathan Goldman (criador do Chakra Chants – Estados Unidos), que é diferente da proposta do canadense Guy Lussier, com quem iniciei os meus estudos com as vogais.

De modo geral, nas diferentes abordagens, a entoação de vogais é realizada sem linhas melódicas, experimentando uma frequência por vez. Também não há acompanhamento harmônico ou de qualquer instrumento, sendo assim uma prática que envolve apenas você e a sua voz. Essa é a principal diferença entre a entoação de vogais e a entoação de mantras e canções que são constituídas por linha melódica, ritmo e muitas vezes base harmônica.

Quais são os benefícios da entoação

Para a terapeuta de som Laurel Keyes (1907-1983), o propósito de entoar é restaurar o padrão vibracional do corpo em alinhamento com o campo eletromagnético. Entoar também nos habilita a encontrar novas frequências e a fortalecê-las em nós. Esse processo traz muito empoderamento em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual.

Trata-se de uma prática que nos traz maior consciência do nosso poder. O poder de nos sentirmos de forma integral, percebendo o nosso corpo e o nosso campo juntos; o poder de expandirmos o nosso campo, nossa percepção e nosso amor; o poder de direcionarmos o som da nossa voz para qualquer parte do nosso corpo, incluindo órgãos, ossos, glândulas e chakras; o poder de movimentarmos, através dos sons, conteúdos emocionais, sensações e energias; o poder de auto harmonizarmos nosso corpo; o poder de estabelecermos conexões com todos os seres e espaços ao nosso redor; o poder de irradiar e materializar nossas intenções e sentimentos mais genuínos.

E é por isso que a entoação se tornou uma prática central nas minhas aulas. Nas minhas experimentações, tenho criado movimentos integrados com a entoação que servem como ponto de partida para que você estabeleça o seu próprio espaço de experimentação e criação com a sua voz/corpo.

A entoação de vogais na minha prática

Para mim, a entoação se tornou uma prática de toda a vida, porque entendi que se trata na verdade de algo muito natural e espontâneo para nós. A entoação, para mim, é como a respiração da voz. É uma prática base, imensamente poderosa e expansiva que nos conecta com a nossa voz e a alinha com o nosso coração pulsante.

Também utilizo outras abordagens, práticas, exercícios e vocalizes que são importantes para cada pessoa. Nós somos únicos, por isso acredito que o mais efetivo, quando acompanho uma pessoa no estudo com a sua voz, é perceber o que para ela pode trazer maior contribuição.

A proposta de entoação que trago é resultado da minha experiência individual e das minhas observações quanto à percepção das pessoas que acompanho em seu estudo de voz e de canto. Eu comecei a prática de entoação das vogais em 2016, com Guy Lussier que se dedica ao estudo e à prática do som desde 1992. Depois expandi os meus estudos, fazendo um curso de terapia de som e com estudos independentes de outras abordagens, como a antroposofia e a musicalidade de algumas etnias indígenas brasileiras, principalmente a guarani.

Através, principalmente das aulas de voz e canto também criei e sigo criando caminhos de movimento que expandem a percepção no corpo das vogais.

Para quem é a entoação de vogais?

Trata-se de uma prática para todas as pessoas que emitem som. Principalmente para você que nunca se sentiu confortável em experimentar a sua própria voz; para você que sempre teve vontade de cantar, de se expressar e por medo dos julgamentos internos e externos, escolheu não fazê-lo. E quando digo cantar, não me refiro somente a querer sem cantora ou cantor, e sim a querer experimentar, sentir, escutar a própria voz.

Conheça mais sobre essa prática através do meu curso O poder das vogais.